neste mundo machofágico
toda mulher é sobrevivente
Bruna Escaleira
Fui acampar neste último feriado. Na barraca ao meu lado do camping tinha um pai com seu filho de 14 anos.
no final das contas
se não tiver escapado
por entre os dedos
não podia ser mesmo
o que se estava
procurando
Lucas Viriato
pedra preta de dominó.
dividida em duas partes,
com seis pontos coloridos,
tem um ponto que está só.
Lasana Lukata
Fecho os meus olhos
e posso até imaginar você,
deitada ao meu lado
e eu te pedindo "faça devagar"...
Te sufocando com as minhas coxas.
Você com a voz rouca pede pra eu não gritar.
Trêmula, me jogo em seu corpo.
Ainda me recuperando do gozo,
quero também te amar.
Você luta, se esquiva...
Mas não consegue
E em meus lábios deixa escorrer
o melhor do teu prazer.
Fernanda Otoni
Britadeira no ombro
Sem camisa
Coberto de poeira
Devagar
Desce a ladeira
Omar Salomão
o céu brilha
mas não são as estrelas de alegria
é um avião que parte
levando uma parte de mim
viver assim?
não sei se faz sentido
como partir pra vida
de coração partido?
Jonas Worcman
— é grave doutor?
— não, é gravidez
fim da vida a dois
...somos três...
Luis Turiba
Eu cuido de manchinhas na parede. Cuido para que permaneçam mais claras. O sol pode camuflá-las. Queimaria a cor. Voltariam a ser parede. Não. Eu cuido das manchas.
Raïssa de Goés
o rosto do búfalo perdura entre
os retratos
o bicho é a memória da caça
é a memória do tiro é a memória do rosto
do bicho caçado
um, dois, três a largada
de novo é o dia do búfalo
teu sonho de homem
já não gosta da presa
mais do que gosta da caça
Matheus Hotz
como se o cão
como tudo o cão
como come até a sombra
come a fome como tudo
e cobre uma cena como
o que está prestes a comer
como um cão qualquer
Gustavo Nagib
poesia é inútil? sim,
como o amor, como o latim,
a esperança e o esperanto.
e tão necessária quanto.
Cairo de Assis Trindade
tanto passou
tanta paisagem
agora só sei
por terceiros
vez por outra
você rompe
e recomeça
o mesmo
espero que
ou
Sergio Cohn
Riscos lentos se fazem necessário
Nas fraudes dos meus olhos
Lista com os dedos já feridos
As feridas que te cobrem
Agulhas encravadas em minha íris
Fermentam lágrimas de amônia
Longe de serem anônimas
Nomes
Marilene Vieira
Golpes delicados
peles arranhadas
vísceras comprimidas
mãos aflitas
se esforçam no crime perfeito.
Ligeiros sorrisos
infinito desdém
coração doendo
vingança chegando
voz amada e inimiga
dizendo
— vem!
Sergio Barcellos
roer as unhas morder os lábios
beliscar os pulsos se você não ligar
estar sempre eu contra mim mesma
mas para não matar não morrer
preferir as palavras
com seus cumes prazeres
enigmas
Marcella Mahara
E assim me pego
replicando bocejos,
adiando concretas experiências,
anestesiando existências.
O tempo passa em slow motion
nessa tarde vazia e sem nome.
Waldecy Pereira
Metal banido pelos céus
As notas indigestas
se estampam nas vitrines
subindo e descendo
na corda-bamba
Olhos se seduzem
pela mercadoria
em fatias de ilusão
O mendigo, alheio a tudo
esculpe sua face no céu.
Alexandra Vieira de Almeida
[...]
tua predileção por grão-de-bico e Di dançando
porque finalmente há ritmo. Se nós não morremos
de tédio
é porque existe o fluxo das fragatas
e se Deus
não for o fluxo das fragatas
eu não sei o que mais poderia
ser.
Catarina Lins
o silêncio
do meu irmão
doía mais
que as pancadas
do meu pai
Reynaldo Bessa
vendavais de amplictil
acalmam o silêncio
etílicos deitados
bebendo seu gardenal
o cérebro sufocado
a química cerebral
antenas recebendo
doses de fenergan
masturbam-se velas
pílulas bailarinas
a noite flutua
horrenda tarde
aqui a dentadura
me fala sombras
Rodrigo de Souza Leão
gosto de conversas dosadas
por isso, quando vou falar com você,
tomo três doses de tequila
com sal e limão na borda da língua.
Daniel Rolim Rocha
Têm chovido andorinhas
umas mortas, muitas vivas
Têm caído segredos do céu
algumas facas, muitos vidros
Mas nenhum me conta mais
minha dor voou para longe
deixou aqui andorinhas
várias, porque é verão
Raphaela Ramos
Insisto
no rastro de quem tempos atrás
passou pela minha vida. Chego
perto apenas da sombra do abajur.
João Paulo Gonçalves
in your eyes
encontrei motivos
pras contas de luz, água e gás
Yassu Noguchi
— tô ficando maluco!
digo com ar grave de quem enxerga luz
no escuro
ela me encara e bebe suco
Caio Carmacho
Gosto de ouvir
o som dos seus dentes rangendo
quando sobre mim e junto a mim
procura a explosão do gozo.
Rosilene Jorge dos Ramos
sexualidade
ou imensidão
no oceano da pele
nado em águas livres
Bruna Escaleira
Beija-flor parado
Tremor de asas
Também viaja
Suga alegria
Por deslocamentos mínimos
Ana Chiara
As palavras,
lancei-as
ao mundo.
O vento,
agressivo,
trouxe-as
de volta.
Me golpearam!
Bianka de Andrade
O playground no jardim.
A menina no jardim.
Seu corpo não brinca no playground.
Israel Antonini
não restou nem poeira
da rotina de folhas e caminhadas
necessidade não é fraqueza
necessidade é necessidade
não sei o que dá mais medo
encontrar algo
ou não encontrar nada
Mauro Santa Cecília
essa escritura calada
essa tamanha bebedeira
esse arrependimento de matar
essa falta de assunto
essa vontade finita
de sair daqui
André Monteiro
Feito um menino que levantasse a lona do circo,
espiava debaixo da linha do horizonte.
Aprendeu a dar risada do destino.
Paulo D'Auria
brasília, brasília,
onde estás
que não respondes?!
em que bloco,
em que superquadra
tu te escondes?!
Nicolas Behr
Breve pedaço de madeira,
em atrito contra a superfície áspera,
dura, impassível.
Não ceder, mas romper-se, incandescente.
O fogo, o lume,
que súbito se apaga.
Paloma Roriz
O passado não dorme
nem jazz.
Recusa a quietude
da memória
mas sem me chamar
para dançar.
Gira mudo e sozinho, sozinho,
entrecruzando meus caminhos
presentes, lançando ao ar
o perfume em torvelinho
de passados outros, e presentes, e futuros
que poderiam ser, e ter sido, e contudo...
Thássio Ferreira
[...]
digamos
que todo poema
é aquilo que sobra
de uma pessoa;
almoçar, então, ao lado deste poema
é almoçar ao lado de qualquer pessoa
é construir as rampas que nos guiam para o alto
e as escadas que nos levam para baixo
Danilo Diógenes
a minha poesia é lírica
tem a beleza bucólica
do voo de uma andorinha
tem o latido melancólico
de um cachorro campestre
tem a solidão jururu
de uma galinha ciscando
mas o que ela queria mesmo
era ter...
a força do tigre
a astúcia do coiote
a agilidade do jaguar
e o mistério do morcego
Jovino Machado
se nós escrevêssemos
tudo o que sentíssemos
estaríamos sempre sós
e para sempre ocupados
porém não tão infelizes.
Leonardo Marona
Quando eu morrer,
filhinho, não se
esqueça de colocar água
com açúcar no potinho.
Te visitarei disfarçado
de beija-flor.
Daniel Viana
ecos do dia
num caleidoscópio
movem-se lentas larvas
entre palavras e coisas
In other words:
ninguém sonha em prosa.
Patrícia Lavelle
Un viento de recuerdos
atravesó mis sueños,
ha traído su olor
rojo, sin dueños.
Mi dejarte
sola, embarazada
de calidez y libertad.
Jade Prata
Eu sou um trem de ferro
Que leva minérios
No coração.
Eu sou um trem de ferro
Que traz histórias
No vagão.
Eu sou um trem de ferro,
Seguindo os trilhos
Da palma da minha mão.
Petrônio Souza Gonçalves
Pouco se sabe dos Passarinhos Verdes.
Apenas que eles nos procuram
para se alimentar das surpresas.
Pousam em galhos discretos
e se escutam:
— Olha! Um pass...
Voam para longe, felizes por
terem completado seu destino.
Pedro Lago
dançarina baiana perdeu o rebolado nas areias de copacabana. quem encontrá-lo, é favor devolvê-lo.
muito mais que monetário, ele é de inestimável valor afetivo para sua dona.
mary saravá
7407-0198
Letícia Féres
No opositor me encontro,
encontro eu, você e a fera.
No opositor me escondo,
escondo eu, você e a fera.
No opositor penso que penso,
mas na verdade é fera, fera e fera.
Luiz Fernando Priamo